Dezembro de 76. Inter quase bicampeão brasileiro. Octa gaúcho. Eu estava na 8ª série do primeiro grau no Anne Frank. Mas queria mesmo era jogar bola. No paralelepípedo irregular, que em graminha aparada qualquer um jogava. Não que eu batesse um bolão, mas não fazia feio. Bom mesmo era o João, corria muito e chutava forte. O Ale era polivalente, marcador aplicado. E tinha o Hermininho, o Antônio, o Titico, o Álvaro, o Kung, o Júnior etc. Difícil lembrar bem o que aconteceu primeiro, mas acho que foi assim. Acho até que aconteceu de verdade.
Amistoso, Brasil x União Soviética (sim, Berlim ainda tinha um muro e Kiev obedecia Moscou). Maracanã, o maior do mundo. Falcão fez o primeiro de cabeça. Passe do Caçapava para o cruzamento do Marinho Chagas pela direita. Zico pintou o segundo. Óleo sobre tela. Perto da meia-lua, recebeu do Batista. Antes da marca do pênalti, o quadro mostrava dois soviéticos jogados pelo chão. Outros dois pareciam ler o Pravda enquanto Zico jogava pinball com os pés. Goleiro de joelhos. Golaço do Galinho. E o YouTube não me deixa mentir (“Brasil 2x0 URSS” na barra de pesquisa).
Pois uns dias depois, lá pela quarta ou quinta partida na calçada, e não no meio da rua – que ainda era dia claro, e de vez em quando passava um carro –, fiz um gol. Para os meus 14 anos, O Gol. Jurei que era igual ao do Zico. Ao menos narrei assim. Pronto. Passei a achar que jogava bola. O João já achava. Que ele, não que eu. Daí para um teste no Inter foi um passo. Ou vários, porque não me lembro bem quanto tempo depois foi que deliramos de vez.
Sacolas com chuteiras a tiracolo, pegamos o T2 rumo ao Menino Deus. Descemos na José de Alencar e subimos a Silveiro a pé. Estádio dos Eucaliptos, o primeiro do Inter cedido para a Fifa. Alguém perguntou o que queríamos. Teste pros “infantos”, respondemos. “Seu” Abílio não veio, tá doente, replicaram. Não tivemos dúvida da decisão a tomar. Fomos embora. Jamais voltamos. Até hoje dizemos que nunca rodamos num teste do Inter. Também nunca passamos, mas isso é um mero detalhe... Merecemos o benefício da dúvida! Levando em conta o que foram os anos 80 para o Colorado, quem sabe se ao menos banco não pegaríamos de vez em quando?
Texto publicado originalmente no jornal Zero Hora, em 31/05/2014


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