O Convergência Colorada recebe muitas manifestações de sócios sobre a realidade do Clube. Esta abaixo nos foi encaminhada via e-mail pelo sócio Alexandre Paz Garcia:
Vejo muitos colorados indignados com a atual situação do time e, por que não, do clube. Especialmente, porque nos últimos anos, o Inter passou à condição de postulante a todo e qualquer título que disputou. Mais do que isso, ele, de fato, conquistou a grande maioria deles, alçando o clube a um patamar de visibilidade nunca antes atingido.
Ocorre que, da mesma forma que existe uma explicação para termos chegado aonde chegamos, existe também uma para que estejamos, pouco a pouco, descendo vários degraus nessa escalada rumo à excelência em termos de gestão e de resultados. Penso, então, que os grupos de oposição, cujo expoente maior é o Convergência, devem agir ativamente para evitar que isso aconteça. Esta é a razão do meu contato.
Logicamente, existem vários fatores que explicam o sucesso do Inter ao longo da segunda metade da década passada. Eu me arriscaria a arrolar os principais:
1) O Inter foi o clube brasileiro que melhor soube manejar contratos sob a égide da Lei Pelé, tão-logo ela entrou em vigor;
2) O Inter soube, como poucos, nortear sua política de futebol na premissa da continuidade. Não na continuidade de nomes ou de esquemas de jogo, mas numa continuidade de maior grau de abstração, o que inclui, por exemplo, a venda de grandes jogadores e a sua imediata reposição por substitutos do mesmo quilate;
3) O Inter foi o clube brasileiro que primeiro e de maneira mais eficaz, conseguiu implementar uma campanha bem-sucedida de captação de sócios, atingindo números impensáveis até alguns anos atrás;
4) O Inter teve em campo, em todas as suas grandes conquistas, jogadores motivados a buscar a glória, seja porque jamais a tiveram, seja porque desejavam tê-la de novo. E nisso existe mérito da Direção, que soube garimpar profissionais cuja história apontava no sentido de que assim se comportariam no momento em que o clube disputasse títulos importantes.
5) Por fim, o Inter contou com a sorte. Sim, a boa e velha alea, elemento indispensável em todas as grandes realizações da humanidade. Porque ela é o detalhe que separa o sucesso estrondoso do fracasso retumbante. Como o gol chorado de Nilmar na final da Sulamericana ou o salvador de Giuliano nas quartas da Libertadores de 2010.
Dito isso, fica mais fácil refletir sobre os motivos que ensejam o momento atual de baixo rendimento e de parcos resultados. Eu diria até, que são evidentes estas razões. Basta, para isso, que se faça uma reflexão sobre o atual panorama destes 5 fatores de sucesso arrolados acima.
Quanto aos contratos, pode-se dizer que o Inter é refém de sua visionária política. Porque apostou em ajustes longos, como forma de minimizar os efeitos da extinção do chamado “passe”, garantindo, assim, as receitas provenientes das vendas de seus jogadores. E deu certo.
Ocorre que essa política tem um efeito prejudicial. Porque, ao mesmo tempo em que segura o bom jogador, que só sai por valores satisfatórios, segura, igualmente, o mau. Não são poucos os exemplos de boleiros que comeram e dormiram no Beira-rio por anos e anos, sem aproveitamento satisfatório. E notem que essa proporção vem aumentando. De 2007 a 2010, lembro de Bustos, Gil e Edu, pra citar somente os que ganham salário de 6 dígitos. Mas no elenco atual temos vários, como Marcos Aurélio, Bolívar, Kléber e, porque não, D'alessandro, Dátolo, Rafael Moura, Bollatti, Juan. Vejam a quantidade de jogadores ganhando 200, 300, 400 mil para jogar uma partida a cada dois meses.
Isso quer dizer que, se antes acertávamos 5 para errar 1, hoje erramos 5 para acertar 1. Inverteu-se a lógica e, com isso, a relação custo-benefício do time. A realidade é que, hoje, temos um elenco caríssimo e de baixo rendimento.
Por conta, também, dessa situação, quebrou-se a tal política da continuidade. Nossa esgaçada folha de pagamento já não permite mais substituições à altura dos que saem. Perdemos Oscar e quem veio? Ninguém. Leandro Damião está de malas prontas e, ao que parece, Rafael Moura será a solução. Perdemo-nos em meio ao caos e à pressão inerente a quem busca se manter no topo.
Nossa campanha de sócios encontra-se estagnada. E aqui, na minha opinião, vai a parcela de culpa da torcida para o atual momento. Porque vincular a manutenção da condição de sócio aos resultados de campo não me parece atitude de quem quer o bem do clube. Não entendo, da mesma forma, as ondas de associação deflagradas pela vinda de um grande jogador, como Forlán, por exemplo. Todas elas traduzem, então, uma triste realidade, que é o fato de que grande parte dos ditos sócios do Inter são pessoas interessadas unicamente nas prerrogativas inerentes a tal condição, tais como participar de sorteios e ter prioridade na compra de ingressos.
Ser sócio do Inter, de 2006 em diante, passou a ser vantajoso, bacana, cool. Mas o que se vê é que uma significativa fatia desses pseudo-associados abandona o clube tão-logo vislumbra que os R$65,00 debitados da sua conta mensalmente não trazem vantagem que justifique a sua permanência no quadro social. O verdadeiro sócio, aquele movido unicamente pelo amor ao clube, jamais vinculará esta condição a situações efêmeras como um campeonato ruim ou a contratação de um craque. Sei que muitos discordam, mas essa é a minha opinião.
Dentro de campo, creio que esteja o mais importante de todos esses fatores de insucesso. Mesmo porque o futebol, no final das contas, é feito por quem pisa no gramado e toca na bola. Todos os demais envolvidos são coadjuvantes do espetáculo. Alguns com mais, outros com menos importância. Ainda sim, todos coadjuvantes.
O que se nota no atual grupo de jogadores é uma insolência diante dos objetivos de campo. Talvez porque a grande maioria já tenha conquistado quase tudo, talvez porque careçamos de um grande líder, talvez porque o grupo contemple individualidades cujas personalidades facilitem o atrito em detrimento à comunhão. Ou talvez seja tudo isso somado. A única certeza é o fato de que o time do Inter arrasta-se em campo, como que aguardando o apito final para que cada um tome o seu banho, entre no seu carro importado e vá para casa fazer aquilo que realmente importa, ou seja, cuidar de suas vidas.
Estamos órfãos, ainda, de um treinador experimentado, capaz de liderar o grupo e de introjetar cultura tática num plantel que, em que pese aparentemente desmotivado, possui inegável capacidade técnica. Não é admissível que, nesta altura do ano, não tenhamos um padrão de jogo. O padrão de jogo do Inter, aliás, é não ter um padrão. Nossas jogadas de gol decorrem de lances fortuitos, permeados pela sorte, como em bolas paradas, ou de lampejos de genialidade de nossos atletas multimilionários.
Por fim, é preciso dizer que a sorte não nos tem sorrido ultimamente. Até porque, segundo reza o ditado, a sorte acompanha os audazes. E audácia é tudo que não estamos tendo. E penso que, mesmo que a tivéssemos, de nada adiantaria. Porque a sorte ajuda um time muito bom a ser campeão, mas não um mediano a ser muito bom.
Essas são minhas reflexões sobre o atual momento do Inter. Que segue ladeira abaixo até que a Direção tenha a humildade de reconhecer que estamos na contramão da nossa mais recente senda de vitórias. Não porque tenhamos mudado de rumo, desde 2006. Mas porque o caminho se modificou e nós insistimos em marchar para a direção errada. Ou se corrige isso o mais rápido possível, ou assistiremos ao nosso clube passar por um longo período de escassez de títulos, brigas internas, coadjuvância futebolística, dívidas e, até mesmo, pelo impensável pesadelo do rebaixamento.
Alexandre Paz Garcia – sócio do Sport Club Internacional
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