Nos dias de hoje, em que quase todos os atletas de futebol
almejam buscar euros no Velho Continente, às vezes nos deparamos com situações
insólitas como a do jogador brasileiro Rafael. Na final dos XXX Jogos
Olímpicos, de Londres, depois de entregar o primeiro gol para os mexicanos,
ficou indignado com a reclamação do companheiro Juan por ter quase entregue
mais uma oportunidade para os mexicanos nos últimos minutos de jogo.
Posteriormente, depois de ser substituído, aparecia no banco de reservas como
se nada houvesse acontecido.
Bem diferente foi a
posição dos jogadores da equipe ucraniana do Start FC, que preferiram a morte a
entregar um resultado para a Seleção de Futebol das Forças Armadas da Alemanha. Você conhece esta história? Vamos ao fato.
Com a invasão nazista na União Soviética, durante a Operação
Barbarossa, em 22 de junho de 1941,
a Ucrânia (um dos países que compunham as Repúblicas
Socialistas Soviéticas) foi tomada pelas tropas do Exército Alemão, que levou
milhares à morte e aos campos de concentração. Centenas de presos soviéticos foram liberados nas ruas de
Kiev, porém era proibido a eles trabalharem, podendo apenas ficar vagando na
mais cruel das situações, famintos e esfarrapados).
Kiev, após ataques
Na capital Kiev, havia um clube de futebol (o mais popular daquele
país) chamado Dínamo FC, que, como tudo que acontecia no país, parou de
funcionar. Ninguém sabia onde foram para os seus jogadores – nem podiam
se preocupar com isto. Certo dia um torcedor fanático pelo Clube, Josef Kordic – de
origem alemã, dono de uma padaria e que tinha caído nas graças dos oficiais
nazistas, encontrou esfarrapado e faminto o goleiro que tantas vezes aclamava
nos memoráveis jogos do Dínamo e que, inclusive, tinha lhe dado um autógrafo há poucos anos. Levou-o para sua casa, saciou a sua fome e lhe deu roupas
descentes. No dia seguinte, ele estava trabalhando na limpeza da padaria, onde também
passou a residir.
Conversando com Nicolai Trusevich – este era nome do
goleiro, soube que vários de seus colegas de Clube estavam na mesma situação
que ele fora encontrado no dia anterior. Josef Kordic fez, então, que o goleiro
passasse a procurar um a um os demais jogadores. Passadas algumas semanas, oito atletas do elenco do Dínamo e
três do Lokomotiv estavam trabalhando na padaria, tendo sido achados nas ruas de
Kiev e em outras cidades da cercania. Nosso “Oscar Schindler” começa a desafiar
os nazistas para jogos contra o time de sua padaria. Os “empregados” da padaria
trabalhavam pela manhã e treinavam à tarde. Estava fundado o Start Foot-Ball
Club (Start era o nome da padaria).
O Start e um de seus adversários
Os nazistas aceitaram o desafio, acreditando que poderiam
atrair a simpatia dos moradores locais. No entanto, começa aqui um caminho tortuoso que acabaria
mal. Depois de conseguirem uniforme para o time (camisetas
vermelhas e calções brancos. Nota: que coincidência...), no dia 7 de junho de 1942
fizeram seu primeiro jogo. Embora estivessem mal fisicamente – por um ano de
fome e condições adversas, venceram uma guarnição húngara por 6 x 2. Na
seqüência, jogaram contra uma guarnição romena, com nova vitória por 11 x 0.
Depois, foram mais quatro jogos contra outras equipes, todos vencidos de
goleada (Start 9 x 1 Militares Operários Alemães da Estrada de Ferro; Start 6 x 0
PGS; Start 5 x 1 MSG; Start 3 x 2 MSG, na revanche).
Em 6 de agosto de 1942, o Start FC joga pela primeira vez
contra uma equipe do Exército Alemão. O adversário foi o Flahelf (Os 11 da Artilharia
Antiaérea). Era a chance da vingança. O jogo disputado no Zenit Stadium foi muito violento por
parte dos alemães, que se aproveitaram do fato que o árbitro era um oficial
nazista. Antes do início do jogo os atletas perfilados deveriam fazer a saudação
nazista: os atletas do Star se negaram a realizar tal ato. Ao término do
primeiro tempo a vantagem era do Start por 2 x 1. No intervalo, a equipe recebeu
em seu vestiário a presença de alguns oficiais nazistas que sugeriram que
perdessem o jogo. Voltaram a campo e após os 45 minutos finais o placar
apontava 5 x 3 para o Start, sendo que no último minuto do jogo o dianteiro
Aleksei Klimenko passou pelos zagueiros alemães e pelo goleiro e, quando todos
pensavam que ele entraria gol a dentro com a bola, ele parou sobre a linha de
gol e deu chute para ..... o centro do campo. E o Zenit Stadium veio abaixo!
O Start jogaria ainda mais uma partida, ganhando de 8 x 0.
A partir daí, os jogadores começam a ser caçados pelos
nazistas. Nikolai Korothykh foi o primeiro a morrer, em 17 de agosto de 1942, há exatos 70 anos; depois de serem presos, os outros 10 jogadores foram levados para o
campo de concentração de Sirtez; a seguir, Ivan Kuzemko foi executado por uma
brigada alemã; orgulhoso com o que tinham conseguido, Alexsei Klimenko foi assassinado
a sangue frio no pátio do campo de concentração; no dia seguinte seria vez do
goleiro Nikolai Trusevich. A partir daí, foram assassinados Georgy Timofeyev,
Pavel Komarov, Vasiley Sukharev, Mikhail Putistin e Mikhail Melnik.
Quando o exército de Stalin derrotou os nazistas poderia se
pensar que o inferno para aqueles jogadores havia acabado, mas não foi assim... Os jogadores foram acusados de colaborar com os nazistas,
fornecendo-lhes pão e jogando futebol com o inimigo durante a guerra. Os três
jogadores sobreviventes – Makar Goncharenko, Feodor Tyutchev e o reserva
Sviridowsky, depois de julgados, foram deixados em liberdade com a promessa do
mais absoluto silêncio sobre o assunto.
Tempo passou e aquelas pessoas que assistiram ao jogo de 6 de agosto de
1942 passaram a ter
passe livre em todos os jogos do Dínamo de Kiev. Os atletas do Start F. C. passaram a ser considerados heróis
da pátria, havendo monumentos aos mesmos em várias partes do país. No Estádio
do Zenit existe um monumento com os dizeres: “AOS JOGADORES QUE MORRERAM COM A
CABEÇA EM PÉ
DIANTE DA INVASÃO NAZISTA”:
Em 1981 o Zenit Stadium passou a se chamar Star Stadium. Esta história rendeu vários filmes:
- DOIS MEIO-TEMPOS NO INFERNO: húngaro, 122 minutos, 1961,
Zoltan Fabri;
- TERCEIRO TEMPO: russo, Mos film, 1962, (sem outros dados);
- FUGA PARA A VITÓRIA: americano, 1982, (adaptação da história), Paramount, 117 minutos,
década de 80, John Huston. O s papéis principais: Michael Caine, Sylvester
Stallone, Max Von Sidow, Daniel Massey, Pelé, Bob Moore, Osvaldo Ardiles.
MATCH: russo, 2012, Andrey Maliukov
Episódio reproduzido no cinema.







Um comentário:
Esta história belíssima deveria servir de inspiração para muitos jogadores que atuam de má vontade no Internacional atualmente.
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