sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Gestão do clube e outras características


Por Leonardo Luis Ligabue Cardoso, conselheiro do Sport Club Internacional

Muitos perguntam aos conselheiros do clube o que podem fazer, se podem influenciar algumas práticas ou se de que forma realmente definem os rumos do time. Normalmente, quando recebo este tipo de pergunta, devolvo com uma indagação: “se você reside em um prédio e faz parte do conselho deste prédio, pode influir no que faz o síndico?”. Sempre recebo a resposta: “mas é diferente...”. Então, posso afirmar, não é! O papel do conselheiro é, claro, fiscalizar as ações da gestão do clube, independente do resultado, sem, entretanto, efetivamente envolver-se diretamente na decisão tomada.

Ao conselho cabe, como princípio, fiscalizar as ações e, como regra, deliberar sobre diversas questões que possam afetar diretamente a vida financeira do clube por algum determinado período. No tocante a questões puramente administrativas, estas cabem à gestão definir e adotar as condutas que melhor lhe aprouverem, sem, no entanto, livrar-se de responder diretamente por danos à instituição, perante o conselho. É aqui que entra o papel fundamental do conselho deliberativo. Assuntos como aumentos de mensalidade, gravames em áreas do clube ou em receitas atuais e futuras, antecipações de receita por mais de 4 (quatro) períodos, análise ao balanço do clube e cobrança de informações acerca de decisões tomadas, podendo, até mesmo, punir os responsáveis por má gestão.

Nosso papel é, como se pode ver, fundamental e, ainda, acrescendo ao que mencionei, é nossa função sugerir, quando assim for interessante para o clube, algum tipo de atitude por parte da gestão. Veja-se, não se trata de interceder na gestão, mas de sugerir determinada situação.


Explicado isto, tenho para mim que, além deste papel importante do conselho, é necessário fazer com que o associado influa de forma mais direta na gestão do clube, podendo opinar sobre determinado assunto que possa afetar diretamente a Instituição como um todo. É inserir o associado como parte do mecanismo de gestão. A profissionalização, via de regra, pode trazer esta alteração profunda no mecanismo de administração de nosso clube, dando exemplo para os demais clubes do país. Imagine-se a construção de um novo campo, ou novo CT, a construção de outro centro de eventos, o investimento pesado na obtenção de lucro proveniente de outras atividades que não o futebol (vôlei, basquete, futsal, natação, etc), em que o associado fosse chamado para, através de um referendo, definir se determinada decisão da gestão, de fato, mostra-se adequada ao que pensa o torcedor, a quem pertence o clube de direito. Acredito nesta forma de gestão, uma gestão mais participativa, com princípios de governança corporativa, de certo modo.



Aliás, dentro deste pensamento, porque não um referendo para saber se uma determinada alteração estatutária se faz necessária? Vamos lembrar que, atualmente, em razão das alterações do código civil, não mais cabe ao conselho alterar o estatuto, e, sim, pertence à assembléia geral de sócios esta prerrogativa.

Resolvi trazer este assunto para reflexão e demonstrar que ao sócio também devem ser dados todos os direitos inerentes a sua importância e que ele possa dar-se a mesma importância. Como conselheiros temos obrigação de fiscalizar e sugerir, sem que isto impeça o sócio de, exercendo seu papel, cobrar. Estamos vivendo uma época de grandes mudanças, em que cada vez mais as prerrogativas do sócio devem ser cobradas e este, por sua vez, deve exercê-las para tornar o clube cada vez maior.

Um dos assuntos mais em voga neste momento diz respeito às obras do Gigante da Beira-Rio, às quais entendo são necessárias, sem que isto importe em sacrifícios desmedidos. Obviamente o conforto e a segurança do sócio, mais do que nunca, devem entrar na pauta sim da vida do clube, pois não é mais aceitável permitir que uma pessoa não consiga chegar a um banheiro, em um bar, em dias de jogos com capacidade máxima. Não é mais suportável cobrar do sócio uma mensalidade e não dar o mínimo de qualidade ao mesmo. Todos somos torcedores, mas isto não quer dizer que por ser torcedores o tratamento disponibilizado pelo clube possa ser ruim, causando insegurança e indignação.

Efetivamente, obras são necessárias sim para adaptar o estádio ao futuro, principalmente visando o conforto do torcedor do clube e não para aqueles que vão apenas assistir a Copa. Nosso pensamento tem que considerar o que queremos para depois desta Copa e nos próximos 20 anos. Isto não é tarefa fácil, principalmente se considerarmos a finalidade do clube, que é o futebol e dar alegrias a sua torcida. O que seria melhor? Uma obra construída através de parceria ou totalmente executada pelo clube através de uma autogestão? Somente comparando ambas e, principalmente, sabendo os custos de cada uma é que haverá viabilidade para decidir. Entretanto, um fato é certo: existirão, em ambos os casos, perdas para os sócios e, acredito, estas perdas serão menores do que os ganhos que vamos adquirir com um estádio mais moderno e espaçoso.

Deveríamos ter discutido esta questão ainda em 2009 ou, ainda, antes desta data, visando exatamente isto, o comparativo com o que seria mais viável, traçando estratégias, planejando e pensando o clube em vinte anos. Lamentavelmente, apenas em 2011 conseguimos dar inicio a este debate, com prazos exíguos, pouco material de estudo, análises realizadas apenas depois de fortes cobranças e outros problemas que não cabem aqui ser novamente debatidos.

A lição que fica deste episódio é: o conselho precisa sim exercer seu papel fiscalizador em todas as etapas e na vida geral do clube, sem considerar apenas a política, mas, de fato, o que é melhor para o seu torcedor. De resto, os responsáveis por eventuais prejuízos ao patrimônio do clube, pelo atraso imensurável, devem ser sim identificados e cobrados posteriormente, pois não é crível aceitar tamanha irresponsabilidade. Mudar de idéia, na última hora, não os torna menos culpados, ao contrário, somente demonstra que a preocupação nunca foi com o clube em si, mas apenas com a política velha e surrada feita há décadas dentro dos corredores da Instituição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Qualquer contato que se faça necessario, por favor envie um e-mail para conv.colorada@gmail.com